Lembro de minha avó, ou minha bobote, como eu a chamava quando era pequena, como uma mulher guerreira, bem à frente de sua época.
Ela desafiou as regras da sociedade em um tempo em que as mulheres não tinham os seus direitos reconhecidos.
Deixou para trás uma vida que não a agradava e seguiu em frente com suas três filhas. Cuidou de cada uma delas, com todo o cuidado e superproteção de uma mãe e com toda a bravura de um pai. Ela foi o Porto Seguro de toda a família, das filhas, dos genros e de todos os netos.
Quantas e quantas vezes eu lembro de minha avó, tirando um dinheirinho para me dar, de dentro de um saco plástico, dentro de uma bolsinha, dentro da bolsa. Era um verdadeiro cofre. Ela fazia até o impossível para realizar o desejo de um neto.
Tenho grandes lembranças da casa de minha avó. Talvez por ser a primeira neta, e afilhada. Lembro de brincar com suas bijuterias, de chegar na casa dela e abrir o armário de guloseimas que era todo meu. Lembro do primeiro dente de leite que arranquei na casa dela. E de uma saia dela que ela cortou para fazer um paninho pois eu tinha ficado menstruada e ela não tinha absorvente para me dar.
Lembro dela passando a tarde dos sábados catando piolhos nos netos. E todos nós ficávamos com vinagre na cabeça.
Lembro dela tomando conta de mim e do meu irmão, enquanto meus pais viajavam.
Lembro dela cuidando de minha filha enquanto eu trabalhava no computador.
Lembro das risadas gostosas que ela dava, cheia de vergonha como se fosse pecado ser feliz.
Vá em paz, minha avó! Um dia a gente se encontra de novo!
Bjs
Nanda
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Nanda Bahia 