
Esse poema de Ferreira Gullar é a verdadeira tradução das antíteses da nossa vida.
Desejo que saboreiem cada estrofe como eu saboreei!
Que a força do medo
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silencio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo
Mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece.
Nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas.
Como única coisa
Que resta a um homem
Inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma
E na paz que eu mereço.
E que essa tensão
Que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita
Em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim
É a lembrança do que fui
A outra metade eu não se.i
Que não seja preciso
Mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espirito.
E que o teu silencio
Me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aporte uma resposta
Mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade
Para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que minha loucura
Seja perdoada.
Porque metade de mim
É amor
E a outra metade
Também.
Bjs
Nanda
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