Metade

20 abr

Esse poema de Ferreira Gullar é a verdadeira tradução das antíteses da nossa vida.
Desejo que saboreiem cada estrofe como eu saboreei!

Que a força do medo
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silencio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza.

Que a mulher que eu amo
Mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece.
Nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas.

Como única coisa
Que resta a um homem
Inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma
E na paz que eu mereço.

E que essa tensão
Que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita
Em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
É a lembrança do que fui
A outra metade eu não se.i

Que não seja preciso
Mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espirito.

E que o teu silencio
Me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aporte uma resposta
Mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade
Para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que minha loucura
Seja perdoada.

Porque metade de mim
É amor
E a outra metade
Também.

Bjs

Nanda

Uma resposta to “Metade”

  1. Avatar de Ban
    Ban 24/04/2012 às 1:31 #

    Escrevi este poema no mesmo dia em que você postou os versos, acima.

    METADE DE MIM

    Metade de mim está na cama
    A outra metade, no chão
    Marido da Terra
    Fiel aos instintos

    Metade de mim é astúcia
    Coragem, vontade
    De sair correndo à deriva
    Entregue ao sabor e à Vida

    Metade de mim é decência
    Faz café e cafuné
    Vai ao mercado
    Mas volta pra casa

    A outra metade é saudade
    Vive na falta
    Não tem idade
    Nem identidade

    A metade saudade
    Tem muita vontade
    De viver plena sinceridade
    De ser só verdade
    De não amar pela metade
    E, sim, juntando as metades
    Criando a realidade
    Dando à vida continuidade

    Metade de mim é só sexo
    Não trai, não confia, não se filia,
    Não tem mania
    Apenas faz estripulia

    Metade de mim é carinho
    Faz sexo, amor, dá denguinho
    Faz love, tem vinho e filminho
    Faz bem, tem sabor e caminho

    Metade de mim é mar
    Mistério, infinito, amar

    Metade de mim é o ar
    Liberdade, leveza, voar

    Metade de mim é terra
    Força, chão, fera, sincera

    Metade de mim é fogo
    Vida, luz, verdade, início e fim

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